sábado, 9 de agosto de 2008

O Princípe, de Maquiavel

Há algum tempo terminei a leitura de O Príncipe de Maquiavel. Lembro-me que na ocasião da leitura fiquei impressionada com o teor político da obra, com a análise de fatos históricos em todo momento, com a riqueza de argumentos, com a frieza com que é visto na obra o homem e sua forma de governar. Decidi escrever aqui sobre O Príncipe porque ás vezes, não me pergunte a razão, me pego pensando no que disse Maquiavel nos seus dias de exílio na cidade italiana de San Casciano e vejo que mesmo com toda a chocante amoralidade dos princípios do maquiavelismo, no fundo é difícil demonstrar que o convívio político entre os homens tenha sido outro, afinal se existem boas teorias políticas, a prática é sempre diferente e Maquiavel simplesmente fez da prática uma teoria. Discordo de que o escrito de Maquiavel seja apenas político, ele discorre sobre diversos aspectos da personalidade humana, ao tentar expor qual seria o modelo ideal da personalidade do verdadeiro príncipe. Sendo assim, quando li Maquiavel aprendi muito sobre a engenharia operacional dos governos e sobre os grandes feitos históricos que devem nos servir de lição, mas também conheci mais a fundo a própria personalidade humana. Pode parecer uma opinião fria e simplificada a que emito agora, mas compartilho com a visão que Maquiavel tem dos homens, dizendo que estes são todos egoístas e ambiciosos, só recuando da prática do mal quando coagidos pela força da lei. Os desejos e as paixões seriam os mesmos em todas as cidades e em todos os povos e o agir humano está condicionado, única e exclusivamente, pela necessidade.
Seguem alguns trechos de O Príncipe que me impressionaram quando da leitura do livro, pela aplicabilidade que podem ter na sociedade atual e também pela veracidade de suas constatações:

As amizades conquistadas por interesse, e não por grandeza e nobreza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário. Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos, é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca.

É muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas.
Os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda de seu patrimônio.

Tão simples são os homens, e obedecem tanto às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar.

Os homens, em geral, julgam mias pelos olhos do que pelas mãos, pois todos podem ver, mas poucos são os que sabem sentir. Todos vêem o que tu pareces, mas poucos o que és realmente.

Um príncipe deve estimar os grandes, mas não se tornar odiado pelo povo.

A prudência está justamente em saber conhecer a natureza dos inconvenientes e adotar o menos prejudicial como sendo bom.

O príncipe deve sempre manter integral a majestade de sua dignidade, a qual não deve faltar em nada.

Os homens sair-te-ão sempre maus, se por necessidade não se fizerem bons.

Não desejarias cair só por creres que encontrarias quem te levantasse. Isso ou não acontece, ou, se acontecer, não te dará segurança, porque é fraco meio de defesa o que não depende de ti. E somente são bons, certos e duradouros os meios de defesa que dependem de ti mesmo e do teu valor.

Maquiavel

Os homens são felizes enquanto o seu modo de agir e as particularidades dos tempos concordarem. Não concordando, são infelizes.

As injúrias devem ser feitas todas de uma vez, a fim de que, tomando-se-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados.

O objetivo do povo é mais honesto do que o dos poderosos; estes querem oprimir e aquele não ser oprimido. O pior que o príncipe pode esperar de um povo hostil é ser abandonado por ele. Mas, dos grandes, deve temer que o ataquem.

O príncipe prudente deve cogitar da maneira de fazer-se sempre necessário aos seus súditos e de precisarem estes do Estado; depois, ser-lhe-ão sempre fiéis.

Conhecendo-se os males com antecedência, o que não é dado senão aos homens prudentes, rapidamente são curados: mas quando, por se terem ignorado, se têm deixado aumentar, a ponto de serem conhecidos de todos, não haverá mais remédio àqueles males.

Um comentário:

Daniel Serrano disse...

Dizer Maquiavel maquiavélico tem, no mínimo, umas pontas de maquiavelismo.