quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Tempos olímpicos e reflexões nacionalistas

É interessante ver como todos nós ficamos mais brasileiros, tanto em tempos de Olimpíada como de Copa do Mundo. Durante estes eventos, passamos a amar mais nosso país, nosso povo, nossa cultura. É como se entrássemos em campo com o time de futebol brasileiro, voássemos junto com nossos ginastas, nadássemos sem perder o fôlego e a determinação ao lado de nossos atletas da natação, é como se sentíssemos com eles todas as emoções, derrotas, cobranças e glórias. Vejo como bonito e necessário este sentimento e não sou, nem de longe, uma crítica do nacionalismo, até acho melhor a sua presença do que a sua ausência e, desde que não seja exacerbado, é muito bem vindo, afinal, é ele que nos faz sentir pertencentes a um país, a um povo, a uma cultura, recordando-nos de nossos inúmeros direitos e deveres para com estes. Mas, para que o nacionalismo seja de todo saudável e verdadeiro, além de controlado, ele também deve ser constante, ter certa permanência.
Um nacionalismo que surge hoje e desaparece amanhã é tão frágil que chega a dissolver-se no ar sendo também dispensável, posto que não acrescenta nada, a não ser a ilusão da existência de um maquiado sentimento de pertença. O nacionalismo brasileiro não é nacionalismo, se é que me entendem, já que ele não é constante, muito menos controlado. Ao contrário do que se espera de um sentimento nacionalista ele é esporádico, dá as caras de repente, quando quer e quando o momento se faz oportuno. Nestas ocasiões, as pessoas se vestem de verde e amarelo, fingem saber a última parte do hino nacional, torcem pelo seu país e pelo seu povo, acompanham tudo pela televisão, praticamente se fundem aos atletas olímpicos quando da ocasião de uma Olimpíada e, exageram nas manifestações, como se elas mesmas quisessem acreditar no que dizem e fazem. Aproveitando que me referi à mídia, ao falar na televisão, quero dizer que esta é outra que cumpre seu papel “nacionalista” na íntegra durante as atuais Olimpíadas de Pequim, dando notícias olímpicas vinte e quatro horas por dia, interrompendo qualquer outra programação para mostrar um lance, uma vitória, um momento, ou qualquer outro sinal que venha de Pequim. Como já disse anteriormente, não sou contra o nacionalismo, ele é realmente importante e essencial, mas não é o verdadeiro nacionalismo esse que cultivamos aqui no Brasil. Por que só falar de Brasil em épocas Olímpicas, por que amar o seu povo e torcer por ele tão esporadicamente? Sempre achei de um equívoco muito grande o fato de locutores esportivos ao narrarem um jogo do Brasil, por exemplo, dizerem “Vai Brasil, Vai Brasil”, esta fala realmente cria a ilusão de que é o Brasil, país, povo, cultura que está lá, e na verdade não é. Quem está lá no campo, jogando, é a seleção brasileira, ou os atletas brasileiros, a equipe brasileira, no caso de uma Olimpíada. Não devemos misturar as coisas, pelo menos não deveríamos.
O Brasil é muito mais do que aquilo que vemos em uma Copa do Mundo ou em uma Olimpíada, há muito mais pelo que torcer, há muitas coisas a serem conhecidas e valorizadas dentro deste país tão grande e, ao mesmo tempo, tão esquecido. Se fossemos nacionalistas, estaríamos defendendo a Amazônia, constantemente saqueada e comprada por estrangeiros, e todo nosso patrimônio e riquezas naturais. Se fossemos nacionalistas, estaríamos preocupados em mudar, ou pelo menos, tentar mudar e melhorar nossa política, cada vez mais impune e desonesta. Se fossemos nacionalistas, olharíamos mais para tantos brasileiros que vivem nas ruas, ou em tantas outras situações, sob condições desumanas, com mais atenção e consideração e não com aquela resignação conformada, momentânea e, por vezes, indiferente. Se fossemos nacionalistas, não seríamos tão desiguais, tão inversos, tão cordiais. Não é sendo brasileiro só de vez em quando que estaremos construindo um real sentimento de amor e pertença por nosso país. O nacionalismo é antes de mais nada algo constante, ele existe em olimpíadas, guerras, crises, sucesso, derrota, ou em qualquer outro contexto pelo qual passe o país ao qual ele se remete.
Ninguém ama o outro de vez em quando, pelo menos não em essência, sendo assim, ninguém é nacionalista quando quer, se isso acontecer, já não estamos falando de nacionalismo e sim de um sentimento passageiro e superficial. Que o entusiasmo, a beleza, a euforia e toda torcida pelos times e equipes brasileiros nessa magnífica e monumental Olimpíada de Pequim nos sirva de exemplo e lição, pois enquanto não aprendermos que ser brasileiro é diferente de apenas torcer em um futebol ou em uma Olimpíada continuaremos fadados ao estigma de sermos um estado sem nação, ao contrário daqueles tantos que foram uma nação antes de serem um estado!


Não esqueçamos: o que vem rápido vai rápido! (Clichê ou não, vale lembrar)


O Movimento "Caras Pintadas" - momento de nacionalismo verdadeiro e democrático

Um comentário:

Bruna Mozer disse...

É muito bom sim, torcer nas Olimpíadas ou na Copa do Mundo, nos dá a sensação de sermos um só, mais fortes, mais iguais. De fato, o Brasil precisaria muito mais que isso. No entanto, parece se comover com pequenas coisas, se mobilizar por causas tão partculares, sem reação nenhuma à sociedade em geral.
Fora do âmbito do nacionalismo, o Caso Isabella este ano provou o quão alheia à questões sociais o povo brasileiro vive. Ao ver inúmeras mobilizações e revolta com o caso, me perguntei diversas vezes porque esse entusiasmo não se dá com indignações com a política corrupta, com a justiça defasada e caótica ou com a vasta desigualdade dessa "terra de palmeiras, onde canta o sabiá".
Deveráiamos sim, rever nossos conceitos de nacionalismo.