terça-feira, 1 de julho de 2008

Passeio, família, felicidade...

No meu primeiro artigo neste blog gostaria de falar sobre uma impressão particular que tive durante um passeio agradabilíssimo, que selou o encerramento das atividades deste primeiro semestre com o pessoal da “melhor idade”, e que me fez pensar em coisas simples e um tanto quanto importantes. O lugar que nos recebeu chama-se Porto Feliz, cidade simples de pessoas que carregam o mesmo adjetivo em sua personalidade. O lugar deve se orgulhar por ter uma beleza singela, daquelas que a gente ouve falar, mas demora pra saber como é. A impressão, olha a palavra de novo aparecendo por aí, realmente é uma questão de impressão. Bom, deixemos as divagações de lado, voltemos ao centro da questão, mas aviso logo de cara que você, caro leitor, deve se acostumar com as digressões desta que vos fala. À medida que ia passeando pelas ruas desta cidade que acreditem, já fez história, senti sensações que não se podem definir, posto que por serem sensações não há como explicá-las, realmente é preciso senti-las, mas elas se pareciam muito com o conforto da casa dos pais, ou com a permanência daquilo que é certo.
Não vou descrever os lugares, este não é exatamente o objetivo deste artigo, álias, aconselho ao leitor que os conheça. Mas o que realmente me impressionou foi o contato com a família que nos recebeu. A casa era simples, pequena e um tanto quanto aconchegante, a comida era farta, saborosa, suficiente para o corpo e para a alma. A família era composta por filhos e netos de um casal que construiu uma vida juntos, baseando-se no companheirismo e no respeito, menos efêmeros que o amor, que às vezes cobra demais e quando se vê já se passa. Nem por isso o amor me pareceu ausente, pelo contrário, considerei-o algo que transbordava em cada ato de carinho ou até de punição humanamente responsável daquela família, mas era um amor natural se é que me entendem.

José Roque Neto, em seus desenhos sinais de tristeza, que está muito próxima da felicidade, se é que ambas existem de fato, como sentimentos puros e em essência


Quando cheguei em casa vi que esse passeio não foi como tantos outros que eu havia feito, em tantos outros momentos, foi um passeio aparentemente normal, simples, mas que me fez pensar sobre o que é necessário para que se encontre a tão sonhada felicidade, aquela que tantos falam e poucos têm. Dei-me conta disso quando liguei a TV, hábito esse que não sei quando vai me abandonar, e, oportunamente, bom pelo menos acho que foi oportuno, vi uma das cenas da atual novela das oito da Rede Globo, A Favorita. Confesso que sempre pensei que novelas não são capazes de acrescentar nada às pessoas, mas neste dia vi que até aquilo que não acrescenta em nada pode servir de fato para algo construtivo, deixemos o maniqueísmo de lado, assim como ninguém é bom ou mau em essência, nada é inútil ou desnecessário por completo. Mudei, em parte, minha opinião. Vi uma cena que mostrava uma família, aparentemente com os personagens centrais da trama, a casa era luxuosa e grande, ao mesmo tempo vazia e vulnerável, a comida era farta e exagerada e as relações entre pais e filhos (como já diria Renato Russo) eram um tanto quanto frágeis e desequilibradas. O amor era excessivo, as lágrimas exageradas, as dores inventadas, o importante não existia e o descartável sobrava. Não enxerguei na família da ficção, que não deixa de representar tantas famílias da realidade, o brilho e a segurança no olhar que reconheci nos olhos da família de Porto Feliz, onde eles pareciam dizer uns aos outros “eu sei que posso contar com você." Resumindo, não encontrei a felicidade da qual tive o prazer de compartilhar naquela tarde, naquele passeio, felicidadade que brota daquilo que se convencionou chamar de "família de verdade." Dormi pensando em uma frase de Tolstoi, com a qual ele começa o seu romance Anna Karenina, a frase dizia: “todas as famílias felizes se parecem." Quando finalmente peguei no sono vi que, somente naquele dia, tinha entendido o significado da frase.

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