domingo, 13 de setembro de 2009

Rabiscos

Jardim Botânico, Curitiba - SP


Saudade dos tempos onde, vã que fosse, alguma lógica restasse. Saudade da vida que algum dia, nesta terra de loucos e insanos, dever ter-se feita digna e pura. Saudade dos sentimentos que hão de ter sido bons, sadios e firmes. Saudade de uma igualdade que um dia por estas terras deve ter passado, portadora de honras e gratuidades. Saudade da beleza primitiva, que se faz bela pelo belo que faz, que se faz eterna pela intensidade das marcas que deixa ao passar. Que se faz misteriosa no instante do olhar.


Saudade de um mundo menos podre, mais generoso. Os homens devem ser de todo muito maus para que desgraças e humilhações não cessem de por aqui passar. O mundo é obtuso, dói, as pessoas não se importam, simplesmente não se importam. Os palcos estão vazios porque as pessoas nele habitam vazias, as letras estão pobres porque os que as escrevem estão cansados de falar inutilmente. A poesia solta um grito mudo e abandonado, porque seus versos não são por estes cantos crus e incongruentes apreciados, cantados, desintegrados.

Perdemos as pessoas sem antes tê-las e vivemos com medo de perdê-las. A morte desce implacável sem chance de salvação. Não sei se suportarei o mundo por muito tempo. Ele me é dolorido e distante, com alegrias que o tempo faz passar rápido demais. Não sei se sobreviverei a essa lógica industrial, a essa vida mecânica, a esse tempo que me esmaga e sufoca. Não tenho estrutura emocional para momentos que minha mente imagina, não tenho força para viver escondida.

A solidão espera-me insistente, o drama espera a todos. Que a ilusão conforte os corações superficiais de nosso tempo, um tempo cada vez menos nosso. Que a esperança anestesie os corações dos que sofrem. Tenho saudade de uma saudade que nem sei se existiu, de um tempo que eu prefiro acreditar que um dia a estes seres atormentados abrigou. Seres tão pequenos diante da morte, fascinados e engolidos pela vida.

Para todos os efeitos só nos restam os sonhos, fico com eles, um espaço onde vivo o quê quero, como quero, com a liberdade e o tempo que quero – infinito e sublime como nenhuma realidade jamais será.


Ópera de Arame, Curitiba -SP

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