domingo, 25 de abril de 2010

Série de colagens do alemão Max Ernst chega ao MASP revelando toda originalidade e poder de crítica social do surrealista



A suspensão da razão. Figuras obtidas a partir de colagens para mostrar toda mesquinhez e conformidade emocional da burguesia. As imagens bílicas para remeter-se a uma atmosfera divina e blasfema. A busca por uma arte que seja, acima de qualquer outra coisa, manifestação e expressão sem a necessidade de ser explicada racionalmente, quando muito, apenas interpretada.
Alguns desses tons se veem refletidos na série de colagens produzidas pelo artista alemão Max Ernst (1891-1976) que chega ao MASP neste mês de abril revelando de forma criativa e densamente original todo o surrealismo que brota de sua obra.
O artista alemão é interessante não só pelas imagens que cria, pautadas pela inversão de qualquer espécie de lógica racional, como também pelo seu método original de criação que confere ao seu trabalho uma sofisticação ousada. Chamadas colagens, suas obras reúnem recortes variados de publicações (livros, revistas,etc) que folheados durante anos pelo autor geram um produto final semelhante a gravuras em preto e branco.
No MASP já está sendo exibida a seleção completa das 182 colagens de Max Ernst integrantes dos cadernos chamados Uma Semana de Bondade.
Nas cenas que compõem os cadernos de Ernst, a presença da água é bastante forte remetendo-se a qualquer espécie de tragédia que já aconteceu ou está acontecendo ou à própria imagem bíblica do dilúvio. Em uma das gravuras, há uma mulher com trajes de cabaré que permanece firme e inatingível diante da torrente de água que tudo invade e destrói. Enquanto um homem é pela água devorado, a mulher paira acima da tragédia apoiada em uma torre de relógio. Neste caso, longe de dizer da superioridade da mulher, o artista parece se remeter aos grupos sociais que dificilmente são abalados por algumas tragédias, àqueles estratos sociais que não podem ser destruídos ou ameaçados.


Em contrapartida, se nesta gravura a mulher resiste aos tormentos e ameaças, em outra série de colagens vemos a mulher quase sempre apresentada nua e em posição de submissão, sofrimento. Ao lado dela, na mesma cena, homens-pássaros, figura que remete diretamente à infância do artista que no mesmo dia em que recebeu a notícia do nascimento de sua irmã, testemunhou a morte de seu animal de estimação: um pássaro. As figuras híbridas, as mulheres subjugadas, a inversão de qualquer espécie de lógica, são elementos presentes nas gravuras de Ernst e conduzem o espectador a todo um universo de crítica social e do homem, a uma tentativa de virar o mundo do avesso assim como a guerra e todo seu sofrimento havia feito com a vida de muitos homens da época, inclusive Max Ernst, para quem a guerra sempre fora um elemento traumático.




Neste sentido, como disse o próprio artista, muito pouco pode ser efetivamente explicado de seu ousado e original trabalho, no entanto, fica evidente como ele se deixou influenciar por fatores externos, não fechando-se somente no seu mundo interior, nos fluxos intermitentes de seu inconsciente. A sociedade está refletida em Max Ernst, principalmente a sociedade burguesa e a sociedade autoritária que faz e alimenta a guerra, de uma maneira absurda e irônica, com o objetivo de expor o que essa sociedade apresenta de mais grotesco e de mais trágico. Além de criticar de forma inteligente o seu tempo, o artista também antecipa temores em relação ao futuro que se mostraram de fato válidos. Censurado e perseguido pelo nazismo da época, Max não se deixou intimidar, foi para os EUA onde continuou produzindo sua obra que, no mesmo movimento em que reunia pedaços de outras figuras, dava forma e vida a uma imagem totalmente nova que ganha vida e transbordamento no detalhe sutil de cada recorte.




Texto inspirado em matéria da Carta Capital

2 comentários:

Mayra Cive disse...

Li o texto da Folha..
Sou muito mais as suas reflexões!rsrs!
ótimo como sempre, maurinha!vc vai longE

parabens!

beijos

mayra cive

Maura Voltarelli disse...

Obrigada Mayra.
Digo o mesmo pra vc, "vc vai longe..." O importante é ir, não parar rsrs.
Um beijo grande. Continue visitando.