sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Aos que esperam...

São muitos os que esperam e tantas são as coisas esperadas.
Há aqueles que esperam um olhar, uma chance. Outros vivem, simplesmente, a esperar uma passagem ou uma chegada.
Há aqueles que esperam um beijo.
Os alucinados esperam a calma.
Os esquecidos esperam uma lembrança de si mesmo.
Os prudentes esperam aquele que deve ser o melhor momento.
E o que dizer dos que esperam por promessas, algumas vezes nunca cumpridas.
Muitas vezes, esperamos pelo tempo em que esqueceremos alguém, mas acabamos admitindo logo em seguida que esse tempo simplesmente não existe, posto que certas pessoas são por nós carregadas para sempre, quase sem querer.
Quantos não esperam pela ausente presença dos que não estão mais por aqui, pelo menos de maneira tocante e percebida.
Estamos sempre esperando, mesmo sem sabê-lo, mas não sabemos notar, respeitar e cultivar essa espera.
Mas é bom que esperemos.
A espera pressupõe uma luta, um caminhar na direção do menos fácil ou do menos transparente. Caminhar, por vezes, inutilmente, conciliando os prazeres e o desespero, a calma e o desequilíbrio total, o olhar estático, congelado e o olhar dinâmico, sonhador.
Toda espera carrega uma esperança, mesmo que quase extinta, quase sem sentido. Traz aquilo que nos move na direção do desconhecido, este que nos fascina e inebria deveras.
A espera não pode deixar de existir, pois ela materializa a essência do humano. E o humano está destinado a esperar.
Esperar bênçãos, voz, milagres, libertação, amores impossíveis, dores, momentos, palavras. Mas também nos está destinada a conquista, conquista de parte de nossa espera, afinal, mesmo quando, aparentemente, conquistamos tudo, sempre nos descobriremos esperando algo mais.
E assim seguimos...
Esperamos o óbvio, o louco, a revolução.
Esperamos o exemplo, o apoio, a justificativa.
Esperamos o passar das coisas, do tempo, das dores.
Esperamos uma prece, uma bela paisagem, um bom livro e uma bem contada história.
Esperamos aquele lugar ideal, sem os outros que não desejamos, sem opiniões e falas vazias que nos incomodam e não nos fazem sentido.
Ah! Como esperamos pela satisfação de seres originalmente insatisfeitos e como queremos ser o outro, assumir o papel de impostor das suas inerentes contradições.
Esperamos num tom penetrante e claro uma melodia, uma tangente combinação de sons que fazem estampar em nossas feições o brilho da reminiscência, a saudade dos velhos tempos!
Esperamos por uma festa, pelo seu fluxo corrente de expectativa e alegria.
Esperamos a terra produzir, impelindo-a a isso e, dessa forma, impelimos a nós mesmos.
Enquanto esperamos, as frutas amadurecem e as flores rebentam nas vinhas, e o calor aumenta, e nos pêssegos aparece a primeira penugem, e os homens sonham com um ano fecundo e abundante enquanto trabalham, e o tempo passa...
Há ainda aqueles que esperam e procuram por uma coisa que sabem que não podem achar e, mesmo assim, afirmam que não têm o direito de perder a coragem.
Esperamos por sorrisos misteriosos.
Esperamos por uma saudade.
Onde está a loucura, a lógica, a dita racionalidade? Onde está o homem modelo, forte, livre de conflitos?
Eles estão na nossa espera mais distante e mais enlouquecida. A mais impossível de todas. Não existe lógica, não há objetividade clara e percebida, o mundo é conflito, solidão, mesmo entremeados por felicidades ocasionais. E aqui reside nossa última e eterna espera. A espera pela felicidade, felicidade esta da qual nem sabemos o que seja seu exato, seu sagrado, seu efêmero...

M.V

Nenhum comentário: