quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Oi, esse Brasil lindo e trigueiro é o meu Brasil Brasileiro

Nada como regressar relembrando as férias, coisas que vi, ouvi e senti. Mais uma vez, encontrei-me com toda magia, beleza, e efervescência cultural da Cidade Maravilhosa, o Rio de Janeiro. Mas, além da constante sensação de férias - que no Rio são de cunho social e histórico e podem durar séculos, e do fato dele combinar o prazer e a evasão a uma forte sensação de melancolia, para resgatar as palavras daquele que tão poeticamente falou sobre o Brasil, o italiano Alberto Moravia - minhas visitas ao Centro Cultural do Banco do Brasil me renderam experiências interessantes e algumas surpresas. Fui à inauguração da Exposição Brasil Brasileiro (desde já fica aqui meu aviso aos navegantes, a exposição vai até o dia 5 de abril de 2009, pode ser vista de terça a domingo das 10h às 21h no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro).
O título da exposição foi retirado das primeiras estrofes de Aquarela do Brasil, música e letra de Ary Barroso, uma das expressões culturais que mais representam nossa brasilidade. A exposição tem como principal objetivo espelhar nossa identidade cultural através da pintura. Obviamente, isto não deixa de ser uma pretensão, já que é impossível reunir todos os aspectos de nossa tão vasta e, por vezes, incompreendida identidade nacional em uma única exposição, por mais abrangente que esta seja. Nas palavras dos organizadores da mostra, a exposição na realidade não tem pretensões, “é simples como uma tarde de sol, num domingo à beira-mar”.

NOSSA GENTE

Nossas mulheres, nossos campos, nossa força, tão bem representada pela artista nos traços marcantes, nas cores fortes.


Anita Malfati, Tropical

O colorido de Pancetti se repete em muitas outras obras da exposição, a mulher aparece novamente aqui como personagem principal, até parece que elas se deixam levar, lavar....

Jose Pancetti, Lavadeiras do Abate

Brasil Brasileiro abarca dois séculos de pintura brasileira, moderna e contemporânea, agrupadas de modo a captar aspectos temáticos em torno dos quais se estrutura a exposição, são eles: nossa terra, nosso povo, nossas festas, nossas crenças, nossos sonhos, nossos desafios e nossas lutas. Em busca de retratar a alma brasileira, a exposição traça um compromisso com a nossa terra e nossa gente e traz nomes da nova geração de pintores modernistas como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cícero Dias, nos quais predominavam, de fato, elementos da cultura brasileira. Não faltam as pinturas com claro envolvimento político, em meio a outras que nunca deixaram de conservar certo aspecto lírico, como as de Guignard Volpi, ou aquelas que retratam a sensualidade dos dias quentes, ensolarados, como as de Di Cavalcanti. Para quem gosta dos números são 180 pinturas de 70 artistas, oriundas de mais de 50 coleções públicas e privadas.
Brasil Brasileiro com seu misto de cor, talento e sensibilidade mostra um pouco do que muitos entenderam ser o Brasil e o brasileiro. Ela esbarra em alguns estereótipos que nos fazem lembrar a imagem exótica e distorcida que o olhar europeu formou de nossa gente e de nossos costumes, imagem esta que, no entanto, foi sendo superada conforme os hábitos tropicais tomavam conta de nossa arte e, principalmente, a partir da primeira metade do século 20 com os modernistas e o movimento antropofágico. A exposição encanta e canta o Brasil, suas belezas naturais, sua diversidade, suas contradições, sua história. Ela é tão vasta como nosso território e tão sonhadora e idealista como nossa alma. Neste ponto, a meu ver, alcança seu objetivo de ser nossa terra, nossa gente, ao menos em parte. Vale a pena ver e conhecer-se um pouco mais.

NOSSO SONHOS

O quadro traz toda cor, movimento e um certo concretismo de uma festa que é explosão, síntese. Carnaval, nele nós somos, acima de tudo, sonhos.


Emiliano di Cavalcanti, O Grande Carnaval

Mais que nunca é preciso cantar,
É preciso cantar e alegrar a cidade
Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, Marcha da Quarta-feira de Cinzas

NOSSAS LUTAS

No quadro os punhos cerrados, a força, que permeia a ação de uma multidão, abstrata, que luta mesmo sem saber o porquê de sua luta, mesmo que inutilmente. Um pouco do brasileiro, do homem.

Claúdio Tozzi, O público

Mas sei
Que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
João Bosco e Aldir Blanc
O bêbado e a equilibrista

NOSSA TERRA

As casas, as ladeiras, quadro realista mas que permite a curiosidade, já que as portas estão abertas, e é sempre possível querer olhar mais fundo, melhor.

Yoshiya Takaoka, Rua dos Sapateiros



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