sábado, 28 de fevereiro de 2009

Onde ver é delírio

Vou me arriscar a falar sobre algo que ainda - destaque-se o ainda - não vi de fato, pessoalmente, a visão foi apenas, digamos, virtual. Mesmo assim, gostaria que os leitores interpretassem este post muito mais como um convite do que como uma análise minuciosa de algo que vi com meus próprios olhos (perdoem-me o pleonasmo).
Lendo e recebendo informações, chegou-me a notícia de uma imperdível exposição de fotografias do fotógrafo Vik Muniz. Embora, pelo que vi e li, discorde que sejam apenas fotografias o fruto de seu trabalho e ele, apenas um mero fotógrafo. Vik Muniz é um artista brasileiro, de renome internacional, que utiliza a fotografia como instrumento básico para ir além, em direção a uma arte que mistura ilusão e realidade, a aparência comum, com a essência inusitada. Ele fotografa os seus trabalhos realizados a partir de técnicas variadas.
Desde já deixo aqui meu aviso aos navegantes: a exposição “Vik”, que conta com 131 obras do artista, é a maior dedicada até então à sua obra e está sendo realizada no MAM, no Rio de Janeiro, onde fica até o dia 8 de março e depois, para alegria dos de cá paulistas, segue para o MASP, Museu de Arte de São Paulo, com estreia marcada para o dia 23 de abril.
Para avivar as vontades e despertar a curiosidade em ver de perto esses incríveis trabalhos; coloco aqui alguns dos presentes que a exposição gentilmente oferece aos seus visitantes (e que a internet por hora me proporcionou).
Abaixo um autorretrato montado com centenas de pequenos objetos coloridos. São miniaturas de carros, bolas, lápis, cornetas, botões, colheres, garfos, dentre outros, das mais variadas cores e formas dispostos de modo a formar um rosto, os olhos, o nariz, a boca e os dedos segurando a testa. De longe, e olhando assim pela foto, parece simplesmente uma mancha colorida, uma imagem comum, que, no entanto, deve surpreender a qualquer um quando se aproxima e se depara com todos aqueles objetos. Vik Muniz parece querer nos dizer que, muitas vezes, aquilo que vemos não passa de ilusão, impressões que são desconstruídas no instante seguinte.


Esta outra fotografia é tão ou mais curiosa que a anterior, exercitei-me olhando-a de longe e depois um pouco mais de perto. Pareceu-me de início uma imagem escura, composta por duas árvores, um lago e um homem. Depois percebi que as árvores, o homem, o chão, são feitos de linhas, exatamente, nossas tradicionais linhas de costura, emaranhadas de tal modo e de tal modo dispostas que se tornam troncos, caules, folhas. São coisas - para alguns falsas - feitas de fios de linha e que, fotografadas, novamente nos iludem, ao mesmo tempo em que se revelam e nos espantam, deixando a fascinação de mais uma ilusão que se desfaz. Talvez a foto, pequena, não revele as linhas que compõem o desenho, mas ela tem aqui o principal propósito de despertar a curiosidade e a vontade para ver a obra de perto, e aí sim perceber suas surpresas.


Vik Muniz também brincou com a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e ao contrário de Duchamp, que lhe pôs bigodes e barbas, ele a refez usando geléia e pasta de amendoim, matérias que só poderiam ganhar permanência na incrível imagem fotográfica.



Vik Muniz oferece outros trabalhos surpreendentemente diferentes ao longo da exposição. Através de uma nova linguagem só possibilitada pela fotografia, ele atualiza obras-primas da pintura (“Catedral Rouen” de Claude Monet, “O Nascimento de Vênus” de Botticelli) não de modo a destruir-lhes todo seu brilho e particular significado, mas visando refazer uma beleza já consagrada com a ajuda de outros materiais extremamente simples - lixo, objetos de plástico, peças de metal – e às vezes também valiosos – como os pequenos diamantes que dão forma ao rosto de Elizabeth Taylor.

É uma daquelas exposições que simplesmente não se pode deixar de ver, talvez esse seja o fato de estar escrevendo sobre ela, mesmo antes de tê-la visto. Pelo que essas e outras imagens me mostraram, pelo que li e ouvi, posso dizer sem medo de me arrepender depois, quando olhar mais de perto, que as fotografias do trabalho deste grande artista promovem um diálogo entre o banal e o poético, o verdadeiro e o ilusório, mostrando que ver, nesse caso, é delírio.

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