domingo, 15 de novembro de 2009

Pés em pedaços descalços


O sol bate forte em minhas costas.
Sou toda suor e lembranças,
que queimam, espremem,
meu peito e pensamento.
Sou toda dúvida, medo e perplexidade.
A dúvida bate em meu coração,
e faz com que ele queime feito fogo.
Sou toda tempo que se derrete,
se dilui para se desprender do próprio tempo.
Sou toda ensurdecedora.
Queria o silêncio naquele instante,
nada além do silêncio.
Que som dilacerante, provocante, insinuante.
Que formato prolixo e semelhante.
Queria ser apenas surda ou cega quando enfim tive medo,
do infalível destino, das suas artimanhas,
da sua habilidade em provocar emoções
de todo já tão esfumaçadas.
Sou toda desconfiança de mim mesma.
Imbecil insegurança.
Sou toda loucura, orgulho, impetuosidade.
Vontade de voar,
mergulhar no sonho de um cego,
dentro de mim mesmo afundar.
Era um abismo quando descobri o sentimento de querer sumir.
Dali, daqui, de dentro de um corpo,
quase que insuportável aos seus limites,
entontecidos, brilhantes.
Giratórios e brilhantes.
E saber o porquê de mim,
o que faço, o que sou,
o que entendo de amor e dor.
Me descobri como existente no nada.
Me descobri gelada,
sobre uma atmosfera quente.
De repente era tudo como esta gota de suor,
que agora desce fria sobre meu corpo dormente.
Deixando-me seca e molhada
sob um sol que se levanta gritante.
Tal como essa minha angústia,
insistente,
desintegrante,
a esconder uma felicidade que de todo o resto,
se faz ausente, distante.
E agora chove...
Lá fora ela é leve,
dentro de mim o céu se derrama mais forte!

M.V

A foto que ilustra esta postagem é de um dos mais famosos fotodocumentaristas de todos os tempos, o americano Walker Evans (1903-1975), e faz parte de uma exposição que acontece no MASP (Museu de Arte de São Paulo) com 121 imagens que representam, em sua maioria, a Grande Depressão vivida pelos EUA nos anos 30. A exposição fica no MASP até o dia 10 de janeiro de 2010 e revela como o fotógrafo conseguiu atingir um grau de equilíbrio adequado, esteticamente belo e marcadamente humano ao retratar uma época de sofrimentos e perdas.

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