sábado, 8 de agosto de 2009

A minha palavra


Sinto-me tão refém de minhas palavras, como se delas dependesse meu último suspiro, minha derradeira sombra de vida, meu vestígio de loucura, meu resto de dignidade, meu abismo do desespero, minha solidão cruel e assustadora. Estou esmagada pelas minhas palavras que sempre me consumiram mudas e absurdas, que sempre de mim brotaram incontidas e violentas, simples e enigmáticas. Elas sempre foram minha segura companhia, meu amor que nunca me abandonaria, o beijo na minha alma, o toque cortante na minha pele.
Minhas palavras sempre foram a música nos meus ouvidos, os sonhos de minha vida, as ilusões do meu caminho. As letras insistem em cair no colo do meu destino, me visitam, me irritam, me seduzem. São cruéis e generosas, ásperas e macias, lindas e tenebrosas. Novamente, estamos apenas eu e minha palavra. Não sei fazer outra coisa que não seja escrever e cantar algumas de minhas letras. Disseram-me uma vez que sabia olhar pessoas, digo que aprendi a olhar o que elas escondem, aquilo que não mostram e tudo isso traduzir em palavras e impressões.
O que escrevo brota de meus traumas, de minha solidão espremida em sorrisos que me acalmam o peito e disfarçam o fogo de minha alma. Escrevo desde sempre, olho o mundo com demasiada atenção, às vezes ele embaça meus valores e aí é por meio de minhas palavras que mudo de repente de convicção. No entanto, não deixo de escrever ilusões, doces por natureza, santas e necessárias ilusões. Às vezes quando escrevo minha pele queima, minha mente ferve, meu peito pulsa e minhas mãos tremem em busca da melhor palavra, aquela que nunca me interessa ou satisfaz por completo.
A palavra certa me deixa nua, retira-me dos limites de meus medos e preconceitos, joga-me na lama do amor, nos delírios incontidos do prazer. Escrevo porque está além de meu controle não fazê-lo, as letras são meu ar, as metáforas meu endereço, a literatura meu refúgio. Na literatura não sou mais eu mesma, sou a personagem que me fascina, sou o enredo que me prende, sou o detalhe que me angustia. Escrevo e já escrevi tanto, adoro minhas letras velhas, meus rabiscos ingênuos, minha dor enferrujada.
Às vezes sou prosa, às vezes poesia, com esta última nem sempre me entendo, por vezes, sentimentos tão dolorosos e incontidos extrapolam os limites formais e necessários da poesia. Mas sempre procuro ser poeta na prosa, encaixando tantas quantas forem as figuras de linguagem e construções ricas de um texto nos traços de minha vida. Escrevo palavras sedutoras, contraditórias, afundo-me na minha infância solitária e dela retiro o que preciso pra ser autêntica e corajosa na vida. Minha palavra é brava, pungente, forte e humana.
Vivendo e construindo, intensa ela seguirá.

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