domingo, 4 de outubro de 2009

Desejo

Luiz Fuganti


Luiz Fuganti é filósofo, arquiteto, professor e escritor. Desde 1986 ministra cursos, palestras e seminários acerca de um tipo de pensamento sem referências, imanente à própria natureza. Foi um dos fundadores da ONG Pivot em 2002, não mantém vínculos institucionais e criou um movimento, a Escola Nômade de Filosofia, resultante das práticas de pensamento que vem realizando.

Recentemente, assisti a uma palestra de Luiz Fuganti que desconstruiu a idéia de verdade comumente estabelecida entre nós. Ele começou sua palestra indagando “quem precisa da verdade?” e durante toda a sua fala buscou demonstrar diante do público a coerência e sustentabilidade da resposta dada por ele a esta pergunta “aquele que precisa da verdade exterior, imposta, construída sócio-historicamente e religiosamente é aquele que possui uma vida reativa em contraposição a uma vida em essência, dotada de potencialidade e autonomia, pensamento alegre e produção de um corpo pleno”.

A partir daí, Fuganti discorre sobre a história da verdade, fala dos três mestres da verdade na antiguidade grega, sobre um novo mestre da verdade e, por fim, sobre a condição de acesso à verdade. Como pano de fundo de todas essas discussões sobre verdade e mentira aparece a relação entre o desejo e o pensamento, quando Fuganti nos revela a existência de dois caminhos: o caminho da forma e o caminho do acontecimento, sendo que apenas este último é capaz de nos conduzir a uma verdade.

Verdade esta que não se faz absoluta em relação ao mundo exterior e físico das aparências, posto que esta não existe, mas verdade do mundo interior de quem constrói uma vida cuja essência permite recebê-la.
As ideias de Fuganti se contrapõem ao tempo em que vivemos, um tempo em que não mais se ousa desejar, agir epensar, um tempo onde a covardia, o medo de arriscar e de criar novas maneiras de viver corrói as consciências, como diz o filósofo.

"Vivemos um pessimismo e conformismo íntimos da contemporaneidade e com isso nos esquecemos de buscar e nutrir modos de vida que se constituem como autênticas obras de arte e modos de eternidade." (Luiz Fuganti)


Aos navegantes indico aqui um vídeo no qual Fuganti fala sobre o desejo e sobre a ilusão que construímos em torno dele. O filósofo diz que nosso grande equívoco na contemporaneidade é conceber o desejo como um sentimento que deseja algo exterior a nós, que está fora do nosso alcançe e que complementaria a nossa substância, o nosso sujeito, ou seja, ao desejo faltaria o objeto, ele se constituiria na falta, um grave erro que alimenta muita confusão e serve apenas ao poder, este que se nutre de ilusão e confusão.

Fuganti aponta um caminho para que essa ilusão possa ser desfeita desde que o sujeito entenda que tudo começa pelo meio, o desejo na verdade está no próprio acontecimento, no cerne do acontecimento, como diz Fuganti, então é o acontecimento que deseja em nós e não algo em nós que deseja o objeto.
O sujeito precisa encontrar a natureza do desejo no inconsciente da superfície: a virtualidade. O virtual é que deseja em nós, na medida em que a presença que nos constitui se encontra com a virtualidade do acontecimento. Nesse encontro o desejo emerge e se efetua.
Desafio fugantiano: O que é o acontecimento que deseja em nós? O segredo é chegar até ele para nos libertarmos de todos os sistemas de referência.

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