E pra quando nada mais deste meu corpo sobrar
Nenhuma dor, voz ou toque
E pra quando nenhum amor mais esse coração suportar
Nenhum arrepio, loucura ou desespero
E pra quando nenhuma lembrança mais de ti ficar
Nenhum sussurro, grito ou silêncio
E pra quando tudo que restar for caos e mar
Nenhum toque, cor ou cheiro
E pra quando eu por aqui não mais vagar
Nenhum passo, suor ou devaneio
E pra quando todo o som desta terra de súbito se calar
Nenhuma lágrima, angústia ou solidão
E pra quando toda melancolia de meu peito brotar
Nenhuma ausência, pena ou compaixão
E pra quando de mim tudo voar
Nenhuma estrada, porto ou abismo
E pra quando de tudo nada restar
Ainda terei esta da qual uso, abuso e amo estar
E pra todos os efeitos serás universal
Meu retrato do mundo
Pra quando dele não se escute mais a sonora melodia
Não se prove mais do delicado sabor
Não se entorpeça mais de um longo beijo
Não se arrepie mais de uma densa respiração
Não se inebrie mais de uma bela figura
Que a palavra mate a sede das almas suspensas
E pra quando deste mundo só a tristeza restar
Que ela alimente a palavra
Como a palavra dela se alimenta
Nos dias e noites nas quais deste mundo
Pouca coisa se entendeu
Entre sentidos e calafrios
E pra quando a mente por fim enlouquecer
E viver...
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