sábado, 3 de outubro de 2009

Sem nome



E pra quando nada mais deste meu corpo sobrar

Nenhuma dor, voz ou toque

E pra quando nenhum amor mais esse coração suportar

Nenhum arrepio, loucura ou desespero

E pra quando nenhuma lembrança mais de ti ficar

Nenhum sussurro, grito ou silêncio

E pra quando tudo que restar for caos e mar

Nenhum toque, cor ou cheiro

E pra quando eu por aqui não mais vagar

Nenhum passo, suor ou devaneio

E pra quando todo o som desta terra de súbito se calar

Nenhuma lágrima, angústia ou solidão

E pra quando toda melancolia de meu peito brotar

Nenhuma ausência, pena ou compaixão

E pra quando de mim tudo voar

Nenhuma estrada, porto ou abismo

E pra quando de tudo nada restar

Ainda terei esta da qual uso, abuso e amo estar

E pra todos os efeitos serás universal

Meu retrato do mundo

Pra quando dele não se escute mais a sonora melodia

Não se prove mais do delicado sabor

Não se entorpeça mais de um longo beijo

Não se arrepie mais de uma densa respiração

Não se inebrie mais de uma bela figura

Que a palavra mate a sede das almas suspensas

E pra quando deste mundo só a tristeza restar

Que ela alimente a palavra

Como a palavra dela se alimenta

Nos dias e noites nas quais deste mundo

Pouca coisa se entendeu

Entre sentidos e calafrios

E pra quando a mente por fim enlouquecer

E viver...


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