quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Coração em fuga

corações em fuga, de António Manuel Pinto da Silva


Às vezes penso onde estaria você agora
E penso demais
Já vou confessando sem demora
E penso inutilmente
Pois sei que a resposta pode vir ou não
E se vier pode andar entre o verdadeiro ou o falso
Então já não depende de mim
Pra que pensar assim
Mas penso
Inconscientemente
Sei que no fundo o que eu preciso
É confiar mais em mim
Literalmente


Sutilmente, abrangente, descontente,
Moralmente, inadvertidamente,
Contente, enlouquecedoramente,
Irritantemente, agressivamente, maravilhosamente,
Velozmente, calmamente, devastadoramente,
Imaginativamente, demoradamente,
Passivamente, assustadoramente, maliciosamente,
Sabiamente, disfarçadamente, inexoravelmente,
Despudoradamente, facilmente, inquietantemente,
Nebulosamente, fascinantemente, provocativamente,
Sedutoramente, eroticamente, sexualmente,
Casualmente, intencionalmente, deslavadamente
Às vezes não sei ao certo o que você sente


Quando estou perto, inquieta
Quando estou inquieta, longe
Quando estou longe, saudade,
Quando estou com saudade, fome
Quando estou com fome, vazia
Quando estou vazia, sonho
Quando sonho, te vejo
Quando te vejo, me escondo
Quando me escondo, te acho
Quando te acho, me assombro
Quando me assombro, te toco
Quando te toco, me deito
Quando me deito, te beijo
Quando te beijo, me toma
Quando me toma, te desejo
Quando te desejo, me arrepia
Quando me arrepia, te escrevo
Quando te escrevo, te amo
Quando te amo, te escrevo


Lembro de quando te vi primeiro
De como era lindo e inteiro
Lembro de tua voz sedutora
De como era impossível teu cheiro
Lembro de teu olhar tristonho
De como era sutil e certeiro
Lembro de tuas idéias tão belas
De como me conquistaram faceiras
Lembro de quando toquei seu pescoço
De como reagistes de primeiro
Lembro do toque do telefone
De como me ligava sem rodeio
Lembro de nós dois nos desejando
De como pedia por um beijo
Lembro de minha vontade de dá-lo
De como queria que fosses meu por inteiro
Lembro do dia em que me escolheste
De como pra mim veio sem falsete
Lembro daquela primeira viagem
De como sobre nós pairavam belas luzes acesas
Lembro de cada momento
De como tudo aconteceu sorrateiramente
Lembro agora de outras vidas
De como nos uniu o destino
Fazendo-nos belos e eternos
Pousados nas costas desta última rima


Silêncio
Alguns movimentos
Olhares disfarçados
Suspiros de sofrimento
A primeira palavra
A tua aparece de repente
Cara virada
Teus beijos pousam levemente
Olhos molhados
Sussurra que me ama pra sempre
Meu peito se aperta
Meu corpo treme
Minha pele se arrepia
Minha alma se espreme
Em instantes me toma
Penso em ir embora
Cansada de mim mesma
Te beijo quando dizes que me adora
O desejo nos distrai
Enlouquecemos alisando a madrugada
A essa altura já esqueci a mágoa
Sem medo nos amamos
de porta aberta
luz apagada


no escuro consigo ver teus olhos
iluminados por uma fresta de luz
a irromper do seio da madrugada
madrugada que ama,
disfarçada



acho que não mereces
muitas de minhas letras
mesmo assim elas te escolhem
antes que eu escreva
quando escrevo
fico quieta a escutar meus dedos
eles repetem loucamente o que já sei
nas entrelinhas de minha literatura
insistem em dizer
que dela a melhor página
é definitivamente você
um dia o porquê ainda descobrirei
de tamanha atração
entre minha letra
e aquele que sempre amarei

M.V

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