segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Rosas Verdes plantadas no mar



Sinto a vida densa
amadurecida
inconstante
tal como a infância desencontrada

Sinto as vozes salientes
sutis
mudas
tal como se fossem silenciosamente contentes

Sinto o mar quase transparente
quente
brilhante
tal como rua salpicada de gente

Sinto a areia delicada
recortada pela praia
desafiada pelas ondas
pisada pelos homens
enfim,
seduzida pelo sol

Sinto o tempo se diluindo
o sol queimando forte
a brisa semeando ventos
ventos a pentear os corpos
quase sem memória do que sentem

E me sinto eu esmagada pelos dias
intensa
fluída
tal como um céu que se torna tempestuoso

Sinto acariciar meu peito o barulho das ondas
a insistência do sol
os sorrisos expressivos
a gratuidade da vida
que pulsa, grita
também ela a abraçar infinitamente o mar

Sinto o barulho teimoso se recortar
saltar como camada
na memória talhada
só quando me conhecer ele voltará
meu medo é que não volte
e, caprichoso
minha saudade alimente
monstruosamente fascinante
feito cor e barulho de mar

e sinto que ainda que do resto não se saiba
no que empresta o fim da terra
aprende-se derradeiramente
a sutileza perspicaz e reticente do que é amar




busco a concha na areia encravada
levo-a pra casa
concha que encobre a esperança deslizante
de o mar nela guardar

pouso-a no meu ouvido
sorrateiro sortilégio de imaginar
escuto deliciosamente o eterno dançar das ondas a quebrar
não escuto o abraço infinito entre céu e mar

meu coração desfez-se em pedaços
misturou-se aos restos de areia pregados na concha
às impressões tão vagas do passado
e refletiu-se na impaciência do teu olhar




A vista do mar é turva
as diferenças seguem a desfilar
quase a navegar

A vida se faz múltipla
ainda que muitas dignas não sejam
de que o sol lhes bata no rosto sem cessar

de que a areia lhes acaricie os pés
de que a água lhes molhe a alma
de que o vento lhes contorne os cabelos

No fim dos dramas
nos recebem a calma e o começo
de uma eterna imensidão
onde os que sentem se inventam
os medíocres apenas erram em vão
seguem desviando
contemplando sem admirar
boiando sem mergulhar
pisando sem caminhar

eu, talvez, apenas goste de sonhar
ansiosa por inventar
uma cena para amar
e quando o sol fechar meus olhos
já não verei o mar
se antes a vista era turva
vista já não há mais
apenas um ar denso
vozes confusas
cores cinzentas
texturas ásperas
cheiros sombrios
sufocantes calafrios
espelhos desafiados

te beijo entre sons alucinados
na tua boca um gosto salgado
na minha um segredo guardado



Selo do meu coração
confuso
provocas em mim tanta alucinação
horizonte turvo de minha vista falha
embaçado
desenha sombras a repousar na praia
fugacidade derradeira de meus dias
certa
torna-me intensa e sedenta por rimas
sol que agora queima as minhas costas
ardente
escava meu abismo sem formas
de tantas ideias desencontradas e inexistentes

dedos a remexer doces e constantes a areia
sutis
quebram as cordas do tempo
alheio
olhos que curam as aflições da alma
infinitos
ancorados estamos no fim dos mundos
mudos
no oceanos dos tempos
absurdos



olho
medito
sonho
o mar é reto
recortado pelas formas enegrecidas de meu chinelo
você, apenas quieto
por quanto tempo
não se sabe ao certo



vai começar a armadilha do tempo
o inferno prolongado dos dias
o deitar preguiçoso das horas
a falta do que fazer da moça pousada ali na esquina
meu peito já abre as portas pra minha ordinária agonia
às vezes acho o tempo cruel demais
mas penso que pra todos deve ser assim
só queria sumir por uns dias
dormir
e só acordar
quando seus olhos estiverem olhando pra mim



pessoas vêm e vão
meus olhos as seguem e as esquecem
meu peito se aperta e se abre
tua voz some e enlouquece
teu riso confunde e esclarece
minhas lágrimas não sabem se
se escondem ou se aparecem



Já tenho de ti tanta saudade
que a solidão já plantou sua sombra sobre mim
os ponteiros já me desafiaram
os olhares já me atordoaram
os dias já estão insuportáveis
meu caso é perdido
disso muitos já me avisaram



sei que me ama
é disso que preciso saber
para não me recortar em dramas
e terminar sem você
na minha cama



Um nó na garganta
calou-me a voz
tornou muda minha palavra
escondeu angustiosamente uma lágrima
com estes versos
não rima mais nada


M.v

a dias infinitos em uma bela praia

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