segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Fios despenteados




Quero rabiscar alguma coisa,
mas não sei ao certo o que
registrar nessas linhas confusas
tão ausentes e sedentas de você.

Ontem, alheia e sonhadora,
vinha olhando a noite
tremendamente escura.
Tudo simplesmente passeava e,
meus olhos pareciam verter securas.

Como estava linda a cena do mundo
enquadrada pela minha janela esfumaçada.
E eu era apenas um fio de lembranças
a deitarem sutis sobre meu corpo arrepiado.

Pousei meus olhos no céu
tal como outrora os havia na tua boca pousado.
Ele estava maquiado de estrelas,
brilhante e suado, tal como teu corpo
a delirar no meu feito louco, levemente insensato.

Aos poucos, meus olhos turvaram-se.
As luzes da vida se embaçaram.
Em uma confusão de percepções,
eu sabia que apenas morria de saudade.
Uma morte em que não havia dor,
apenas tons de um amor que me abraçavam.

E como um corpo transviado em alma,
deitei meus olhos sobre aquela parte do céu
onde estrelas não mais se encontram.
Há apenas uma insondável escuridão
a insinuar-se sob um negro e reticente véu.




tenho os cabelos molhados
desencontrados
despenteados
naturalmente jogados
nem um pouco amassados

tenho o corpo cansado
o silêncio enxugado
na boca um gosto torto de mel
um tanto amargo
pouco e levemente adocicado

tenho na consciência
planos absurdos amontoados
esbarrados na demência
eu e você escondidos
no meio do nada
na beira da praia
vivendo só de amor
não precisamos de mais nada

ah como tenho em mim
múltiplas mulheres
tantas trivialidades
algumas de rosto pálido
boca trêmula
outras com faces ruborizadas
boca sensual e densa

tenho uma espera lenta
uma promessa que entra
emudece
entontece
e vai embora ligeira
por um caminho

onde já não mais se faz inteira

às vezes vai não tão ligeira
de mim ela sai
e aí só lembro de ti
de como em instantes se vai
deixando no teu lugar
uma mulher
que agora só pode ser uma
invadida pela saudade
invadida pelo som
de uma porta que bate
ou de um carro que parte

levanto
me olho no espelho
meu cabelo está tremendamente embaraçado
mas parece lindo
com novos tons dourados
misturados à cor mais escura do passado
assim me faço inteira
reunindo minhas partes
em uma espera que
no mesmo movimento que divide
em mim também reparte




Chamo o lugar que nos espera,
o lugar onde viveremos de amor
banhos de mar
ventos de matas
beijos do céu
sombras deitadas.

Chamo o lugar que nos abraça,
o lugar onde viveremos de sol
a bater em nossos rostos
a acalmar nossos passos
a tornar sublime nosso olhar
a erotizar nosso corpos
a fantasiar nossos momentos
a diluir nosso tempo
a dividir o céu com o luar.

Chamo o lugar que nos interroga,
o lugar que possui um romance com nossas almas,
e com elas tem a maior afinidade
sabe refleti-las
sabe enaltecê-las
sabe emoldurá-las
nos cantos puros da curiosidade,
nos recortes aflitivos da vaidade.


Chamo o lugar que cuidará do nosso amor,
que o envolverá em milhares de pétalas de flores
de todas as cores
e o fará tão fascinante
como o mais doce e suave dos perfumes,
dissolvido no suor de nossos corpos amantes

no espaço de breves e palpáveis instantes.

Chamo o lugar que não se chama pelo nome.
Ainda descobrirei como o chamo.
Enquanto isso,
te amo...

M.V

Nenhum comentário: