domingo, 24 de janeiro de 2010

Só letras, letras só

O tempo me empurra
algo me perturba
A vida me atiça
algo me arruma
As linhas me contam
algo me disfarça
O mundo me desmaia
algo me abraça
O espaço me aperta
algo me liberta
A lógica me confunde
algo me alucina
A estrada me leva
algo me espera
A saudade me olha
algo me conserta
A volta me perde
algo me diz que a cor dela é verde
mas a data paira incerta


danço-me
na cor da sua alma
balanço-me
nas cordas do teu desejo
reviro-me
quanto te viro do avesso


ferir tuas frases, feitas
deitar em teu colo, mal feita
esboçar teus gestos, inteiros
decorar tuas papalvras, traiçoeiras
traduzir teus mistérios, sem erros
invadir o teu sonho, desfeita
negar tuas noites, perfeitas



vejo tua falta
de perfil no espelho
a refletir minha alma
do invisível agora vejo
a cor e o cheiro


deixa eu pedir
pra que me escreva
deixa eu falar
pra que nunca me esqueça
deixa eu queta ficar
pra que não te aborreça
deixa eu assim te amar
pra que com o meu jeito nenhum outro se pareça
deixa eu sussurrar a eternidade
pra que do meu fascínio
brote a tua liberdade


escutei aquela música
tombei o pescoço de leve
bati os dedos na perna
inundei minha visão de sonhos
forrei meu peito de alegria
senti uma primitiva vontade de dançar
selvagem movimento de corpo
sozinha dançei no meio da sala
não pensei no que o espelho de mim poderia pensar
nem no vizinho mais ou menos chato
e assim me deixei ficar
até o dia se levantar
quando junto da noite resolvi deitar
em um lugar que era de fato uma cama de gato
quando terminar
vou colocar de novo pra tocar
só falta você aqui
vem depressa ser meu par
antes que a vida pare de tocar
e fique apenas a noite a reparar
pelas frestas abertas do telhado
um amor que você não ouve cantar



e aos amores que existem no silêncio
e aos amores que vivem pelos cantos
e aos amores que escorregam pelo tempo
e aos amores que sonham regados pelo vento
e aos amores que esperam a eternidade
e aos amores que pousam sublimes e raros
e aos amores que são como brasa sem idade
e aos amores que aceitam a dor
e aos amores que entendem o próprio amor

na incoerência daquilo que não se entende
aos amores que não são vistos
aos carinhos que sequer são percebidos no recorte das madrugadas
aos beijos mudos e inertes entrecortados por sonos encantados
aos amores que sentem saudade e esperam sem morada
aos amores dos quais a única testemunha é a lua no céu colada
com suas luzes risonhas e ternas a banhar a terra gelada e pálida
com sua graça majestosa e diáfana a iluminar as almas que amam serenas e disfarçadas
a estes o que há de mais belo
a eternidade do presente
desenhada na visão das cores da pessoa amada


M.V

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