quinta-feira, 25 de março de 2010

Musique é o novo espaço do Caderno 2+Música do jornal O Estado de S. Paulo, um encontro entre o revelado e o escondido

Arnaldo Antunes

O caderno 2 +Música do jornal O Estado de S. Paulo estreou hoje o espaço Musique, um espaço muito interessante não só por divulgar a obra de importantes e criativos compositores brasileiros, como também por permitir a participação dos leitores e oferecer um caminho para que talentos da música se façam visíveis e tenham a oportunidade de musicar a composição de nomes consagrados no cenário musical brasileiro, daí o nome Musique.

Em uma segunda etapa, o projeto Musique se inverterá, ao invés de melodias serem enviadas por anônimos para completarem as letras de compositores famosos, o espaço dará oportunidade para que letristas desconhecidos enviem versos que vão se combinar a uma melodia composta por artistas conhecidos.Abre-se, portanto, espaço para que o público participe tanto com a letra quanto com a melodia.

São iniciativas como essa que fazem com que a cultura se popularize, torne-se mais próxima do público e aconteça no mesmo movimento em que oferece espaço e oportunidade para que os talentos que andam por aí aos montes, sem serem notados, sejam por fim vistos, ouvidos, sentidos, contribuindo para tecer essa teia fascinante e transformadora da cultura brasileira.

Esse é o papel da mídia no nosso país, mediar os conflitos sociais, refletir as entrelinhas da sociedade e dar espaço para aquilo que nos transforma, faz de nós seres potentes, conscientes dos próprios desejos, elevados em nossa sensibilidade: a cultura, o movimento estético e belo da arte.

Em matéria publicada no site do jornal, o leitor encontra todas as informações necessárias para poder participar do projeto do espaço Musique.
A letra publicada nesta primeira edição é uma composição inédita de Arnaldo Antunes, simplesmente impecável. Os versos que você vê a seguir aguardam uma melodia, quem se habilita?


Planta colhe, de Arnaldo Antunes

o arroz
que se planta se colhe
o amor
que se planta se colhe
o que vai
volta um dia mais forte
o que fica
escondido explode


o feijão
que se planta se colhe
solidão
que se planta se colhe
se fugir
a estrada te escolhe
e o destino
também não dá mole


ao redor
pra onde quer que se olhe
a saída
é uma porta que encolhe
aflição
que se planta se colhe
algodão
que se planta se colhe


se cair
nessa chuva se molhe
sempre há sede
pra dar mais um gole
toda culpa
se planta e se colhe
na garupa
do tempo que corre


cada grão
que se planta se colhe
furacão
que se planta se colhe
cada um
inaugura sua prole
pedra dura
procura água mole


tudo vem
quando o tempo é propício
todos têm
sua porção precipício
o que sabe
não busca sentido
o que sobe
retorna caído


ilusão
que se planta se colhe
confusão
que se planta se colhe
num segundo
o desejo te engole
só não corre
esse risco quem morre

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