sábado, 25 de julho de 2009

Coisas dela

Falta espaço pro meu passo

pro meu canto

pro meu sonho

pro meu denso encanto


Falta espaço pro meu amor

pra uma dor

pra uma lágrima

pra uma cor


Falta espaço pro meu eu

pro meu pensar

pro meu querer

pro meu viver


Falta-me a mim mesma

Onde estarei eu?

Pra onde fores eu irei



Ela acordou e sabia que aquela manhã não seria fácil, já que as mais recentes tampouco lhe haviam sido. Ao ouvir as primeiras palavras se sentiu como que esmagada, sufocada, parecia que ia explodir em lágrimas, gritos e ilusões já perdidas. Passou a sofrer de uma espécie de tortura interna, a mente era um permanente conflito, o corpo queria ver solta sua alma, inebriar-se de luz e sentir-se como um cego quando volta a ver as luzes e as cores da vida. Tentava inutilmente se acalmar, entregou-se por fim ao choro descontrolado e incontido, como uma criança que chora mais para que os outros a notem e menos pelo brinquedo não possuído. Ela não chegava a conclusão a respeito de nada, tinha vontade de brigar com todo mundo, quebrar a casa toda, bagunçar o meio em que se encontrava para que a sua bagunça interior não estivesse mais sozinha, encontrando-se refletida à sua volta. Sentia que estava frio, isso a acalmava um pouco, todos pareciam de repente estar um pouco tristes como ela. Pensou na morte, sentiu que ela a visitava, densa e invisível. Assumiu sua fraqueza perto de sua treva, treva que a atormentava desde criança. A morte para ela era escura, como a escuridão que se vê assim que fechamos os olhos e nos entregamos às trevas do sono. Escuro era seu mundo naquela hora, não sabia o que fazer, o que pensar, articulava discursos, formulava frases que se desintegravam no ar, nada fazia mais sentido. No fundo, ela tinha apenas uma única certeza, aquela dor, mesmo tão pungente e incompreensível iria passar, ela o sabia por experiência própria.

Decidiu levantar, o que queria mesmo era arrancar aquela angústia que sentia, aquela insegurança, aquela falta de sentido. Ela estava sozinha, sabia que o estava, como tantas outras vezes, não ouvia nada além do som do próprio choro. Desesperado. Fez algumas coisas, tentou comer, andar esperando que aquela crise passasse, que dentro de si as coisas se resolvessem, as respostas aparecessem, mas ela esperava em vão. Se arrumou, colocou uma boa roupa, penteou os cabelos, queria se ver bem diante do espelho, precisava pelo menos de uma boa imagem de si mesma, ainda que insincera. Revestida por uma camada de força quase extinta saiu sem rumo nem motivo. Ela queria simplesmente sair, precisava sair, não aguentava mais a visão material das paredes, queria a liberdade das ruas porque acreditava que estas pudessem libertar do sofrimento a sua alma. Olhou as pessoas enquanto andava, sempre foi afeita às pessoas, gostava de imaginar a história que habita por trás de cada corpo, sem julgar, apenas imaginava e no íntimo se perguntava se alguém sentia ou sofria da mesma crise que ela. Continuou a andar sem rumo, não tinha objetivos nesta sua saída, o objetivo ela alheio à sua racionalidade sempre tão precária.

Quando voltou esperava algo novo, mas tudo estava igual, o mesmo silêncio, a mesma solidão. Ela ficou pior, não chorou porque as águas nunca gostaram de frequentar o seu rosto com frequencia, talvez porque elas já tivessem escorrido por ele demais. Ela queria falar tanta coisa, queria sumir, ir embora, queria ela mesma de volta. Tinha se perdido em um caminho difícil demais para ela, as pessoas não a entendiam e continuariam sem entender, as pessoas eram más aquela hora. Ela, no entanto, continuaria a lutar, lembrando-se que certa vez uma amiga lhe dissera “porque o mundo é muito maior pra você!” A frase ecoou no silêncio de seus devaneios, a crise começava a passar, mas afloraria cedo ou tarde em uma espiral imprevisível, em alma tão nova e já tão cansada.

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