domingo, 12 de julho de 2009

Sombras da cidade - Parte 2

Nas cidades pequenas, se conhece todo mundo, poucos são os anônimos, a proximidade é intensa, as vozes e os rostos familiares, quando se vê uma pessoa uma vez, as chances são grandes de tornar a vê-la novamente seja andando pelas ruas, entrando em uma pequena loja ou comprando um cachorro-quente na barraquinha da esquina.
Já nas grandes cidades, os anônimos se multiplicam à medida que se dilui o tempo e se glorifica a superficialidade e a lógica da pressa. Quantas vezes entramos em um ônibus, lotado quase todos os dias, e deixamos que o nosso olhar encontre um belo rosto, de uma bela jovem por exemplo, com gestos delicados ou firmes, maneiras que nos impressionam. No caminho percorrido pelo ônibus olhamos para aquele rosto desconhecido todo o tempo, os olhos não o deixam, estáticos, mudos, absurdos. O rosto nos seduz, inebria, alicia o corpo e a mente. Vivemos uma paixão naquele instante. Que bela imagem! Qual será o nome de quem este rosto possui? Onde mora? O quê faz?
Nosso pensamento caminha na velocidade do ônibus e, de repente, o som da campainha se faz ouvir, a pessoa se levanta, faz alguns últimos gestos, orienta o olhar, disciplina o corpo e sai do ônibus em direção às ruas. Perde-se na multidão típica dos grandes centros e deixa em quem ficou a sensação de um amor efêmero e inexplicável que disputa espaço com o vazio decorrente da certeza de que aquele rosto o passageiro do ônibus nunca mais verá, tampouco saberá o nome de quem o conduz.

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