terça-feira, 7 de julho de 2009

"Olhai os ipês do campo"



Seguindo algumas pegadas deixadas pelo vento vi um ipê maravilhoso que tinha um cheiro de promessa, uma beleza de outrora, reminiscências e pedaços de uma primeira infância. Ele brota do chão. Já o tinha visto meio de relance enquadrado pela janela do ônibus. Fiquei fascinada e ansiosa por congelá-lo nas lentes fotográficas que paralisam o tempo. Abro o portão do quintal que me é tão próximo e íntimo. Ele está repleto de matéria viva, galinhas correm e protegem seus pequenos pintinhos. Como estão lindas! Há tempos não as via, tampouco me lembrava de como o quintal era calmo, bucólico e capaz de despertar em mim tímidas lembranças do ontem. Andei com cuidado, pisei com passos delicados para não acordar a terra e assustar os que vivem nela.





Quando cheguei perto do ipê, meus olhos foram cegados pelo rosa das flores que contrastava com o azul do céu. Como é lindo o rosa com o azul, que combinação perfeita! Pensei nunca ter combinado em mim as duas cores, algo que agora não hesitarei em fazer. Meus gestos emudeceram, senti que não poderia perder aquele instante da natureza contemplativo. Como ela é perfeita, suas formas harmônicas, o caule se desdobra minuciosamente em partes menores que compõem a beleza indiscutível do todo. De repente, brotam flores aqui e ali em lugares exatos, se aparecessem um pouco mais adiante a beleza não seria a mesma. Elas têm forma e lugar corretos.





Decidi por fim fotografar. Saí em busca de detalhes, daquilo que o olhar apressado porventura não visse, olhei de baixo pra cima, quis sair de dentro dos galhos, de dentro do caule, de dentro de mim mesma.
Quis ser por um minuto um ipê tão lindo, tão único, tão harmônico e, ao mesmo tempo, tão efêmero já que na próxima estação as flores, majestosamente, nos deixarão para que a sua beleza dure o tempo da juventude. Quando ela começa a ficar não tão bela assim, já não existe mais. É como se a natureza soubesse o momento exato de parar para que as pessoas ao olharem o ipê não digam “Ah! Que bom, ele ainda está belo”, e sim “Ah! Como ele é belo”.





É preciso saber que, muitas vezes, quando decidimos parar para ver o ipê ele já não é mais o mesmo. As flores podem até voltar na próxima estação, mas jamais serão iguais. Todas as coisas acabam. Todas. Antes, no entanto, elas têm o tempo de existir, florescer, cabe-nos a sabedoria de saber olhar e amar as coisas enquanto elas ainda estão diante de nossos olhos.
Olhai os ipês deste mundo, olhai além da tua rotina, da tua pressa, antes que as flores se entreguem ao chão e deixem em teus olhos marcas de nostalgia e de vontade!


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