sexta-feira, 3 de julho de 2009

Flores pela janela



Ontem vi flores lindas pela janela.
Elas atraíam meu olhar com a beleza que emudece de tão grande e singela.
Ontem vi homens que andavam a beira da praia. Era uma praia linda, havia um mar de azul transparente, tão claro como valores e conceitos de outro tempo que não existe mais.
As águas do mar e a que escorria pelo chão eram calmas e diáfanas, ao contrário dos homens que estavam inquietos, atormentados, buscavam qualquer espécie de consolo ou sentido que visse do grito, do choro, do silêncio, do abraço. Andavam sem rumo, onde a falta de rumo era o próprio rumo.
Ontem vi pessoas que esperavam por mais alguma coisa, com os olhares perdidos, distantes, os gestos inquietos, o corpo falante.




Ontem vi eu mesma no meu passado e no meu presente, mas não pensei no futuro.
Ontem acredito ter conversado com alguns sem prestar muita atenção nas frases, minha cabeça era tonta e meu corpo cansado.
As vidas individuais que se encaixam como peças a formar o quebra-cabeça desintegrado e sem sentido da realidade apareceram como mágica diante de meu olhar perdido. Pessoas e suas dores, pessoas e suas faltas, pessoas e seus sonhos, alegrias e loucuras. Pessoas e seus gritos mudos no conflito entre o ser e o estar. Li em um livro denso e sincero que para ser é preciso não estar, se o homem está ele perde seu ser em essência, se estamos no mundo competitivo e perdido não somos capazes de ser, apenas estamos, e assim perpetua-se o estar neste mundo que ainda tem muito de bom e de belo, mas também tem muito de mal e também de flagelo.




Ontem vi cheiros e cenas familiares, passei rápido por alguns, me detive mais demoradamente em outros, mas estive, acima de tudo, sonhadora e nostálgica.
Quero sentir em demasia, pensar um pouco menos, quero ser sonho e alento, quero-me livre das dores do corpo, as da alma já me são eternas e, todavia, me enriquecem. Quero não mais pensar no que não vivi, afinal, não esquecerei tão fácil de que ontem fui capaz de olhar para o prosaico do cotidiano e ver muito por detrás de cada olhar, de cada ausência, de cada volta, de cada pessoa a esperar, de cada sorriso ou lágrima a denunciar.
Ontem as vi quando ninguém mais as tinha notado. Não sei ao certo se eu é que as vi ou se elas me desnudaram primeiro, por inteiro. Sei apenas que as vi.
Ontem vi flores lindas pela janela...



Nenhum comentário: