terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cor de Rosa


Ela assim pedia pra que ele a prendesse em suas grades insignificantes, em sua alma torpe de quem muito fala, fala demais, o desnecessário, o trivial, abrevia sentidos, julgando-a merecedora de tais abreviações. Ela queria ser afundada e diluída nas paredes imóveis e brancas, geladas, tal como seu calafrio. Olhava a estrada com olhos molhados, peito sufocado, mente cansada, doída, perdida, esburacada. A estrada só passava, o mundo apenas passava, o universo apenas a olhava de perfil, cabeça encostada, corpo desmontado, sorrisos tão inúteis. Ah como sorriem os seres tão inexpressivamente! Ela fechava os olhos e pensava sem dormir, sem falar. Muda por fora, escandalosa, desequilibrada, melodramática por dentro. É assim que não se faz!

A estrada vai passando, os dias chegando, o céu de repente se tinge de vermelho, vai ficando sublime, algo assim como divino, o céu vai se tingindo de cores fortes, o sol brilha pela metade, as sombras descem pelos cantos recortados do chão de cortes e disfarces estourados da vida. Ela queria novamente um lugar branco, apertado, queria a dor de uma angústia maior que a dela, maior que a que ela pensasse que pudesse suportar. Ela queria e esperava por ser fraca, de fato o era, fraca, calada, molhada de suor e lágrima porque fizera calor por grande parte daquele seu dia tão cheio e, ao mesmo tempo, tão vazio. Um calor que a deixava ainda mais cansada. Pensava em indiferença, em também assim o ser, sabendo, no entanto, que não conseguiria. Parecia sempre saber do certo e do errado, mas sabia de forma limitada, porque limitados são o bem e o mal, sequer existem, o que de fato fazia era algo além do bem e do mal, algo próximo dela e além dela.

E assim ela escutava vozes, distantes das pessoas que pareciam falar. Alheias a tudo, como o universo, tão grande, imóvel, parece não se confundir, não se perder nas pequenas dores, permanece sempre sólido, sequer treme, não se devora, tampouco se entorpece aos primeiros olhos. Quem sabe aos segundos, terceiros, possa entender-lhe a dor, a falta que sente, sem saber exatamente de que falta ela sente. Lá no fundo algo despedaça sem que os pedaços sejam vistos. Discretos eles se multiplicam.

Universos das aparências, da natureza como a mais alta potência do falso. A flor esconde a melancolia por trás daquela tocante beleza. As montanhas escondem a fraqueza por trás da altura firme, da rocha e sua fortaleza. Os córregos calmos escondem a perturbação frenética da alma desesperada. O mundo é um mistério a si mesmo. Um inacabado eterno. Uma sombra crescente. Uma insatisfação constante. Ao homem, ser deste ou de outro universo, ser do nada, quase que do nada, toda falta de verdade, todo limite da aparência, toda pretensão do acabado, todo infinito de um céu azul sem nuvens. Eis a terra dela parada sem ventos, toda duplicidade de quem nunca vencera a si mesmo.


O quarto vai se movendo
Paredes azuis
Mente branca
Atormentada
Pela brevidade
Pela indiferença
Quem o faz
Não ama

Um comentário:

Unknown disse...

Bom não sou a melhor pessoa para analisar um texto, uma vez q sou um "desleitor", mas esses textos seus Maura me deixam com falta de ar. kkk

Essa moça, pelo amor, só tristeza...
espero q não seja um "auto-retrato"!!!

estou acompanhando o IMPRESSÕES, você está me fazendo ler algo mais inteligente.

beijo