sábado, 5 de dezembro de 2009

Fragmento


Realmente era o retrato de uma mulher extraordinariamente bela; estava com um vestido de seda preta muito simples e bem cortado, com os cabelos, que deviam ser castanho-escuros, arranjados em um penteado singelo. Os olhos eram negros e profundos, a testa pensativa. Tinha uma expressão aflitiva e, por assim dizer, desdenhosa. E o rosto um pouco delgado era talvez pálido. [...] - Tem um rosto maravilhoso. E percebo que a história dela não é uma história comum. É um rosto prazenteiro. Mas não teria ele passado já por terríveis sofrimentos? Os seus olhos nos dizem isto, e as suas faces, e este trecho debaixo dos olhos! É um rosto altivo, pasmosamente orgulhoso, mas não sei se ela tem um bom coração! Se tiver, ah!...Isso a redimiria! De tudo!...

Dostoiévski, em O Idiota, em uma de suas descrições indescritíveis, tão próximas e tão distantes, de tamanha força dramática e beleza literária. Descrições tão humanas que, por vezes, quando desviamos os olhos de sua escrita densa e sedutora, acabamos por tentar nos certificar de que aquele personagem por ele descrito não saltou das páginas do livro para se acomodar delicadamente bem próximo de nossa, apenas aparente, solidão. E então, não nos encontramos mais sozinhos!

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