domingo, 7 de fevereiro de 2010

Às Mulheres


Les demoiselles d’Avignon, 1907
Pablo Picasso (Espanha 1881-1973)
Óleo sobre tela
Museu de Arte Moderna de Nova York



Toda mulher já ficou sozinha
Na noite de sábado
Esperando o namorado
Que não vinha

Toda mulher já quis morrer
Afundada na cama
Desfeita em lágrimas
Pelo homem que ama

Toda mulher já se fez de louca
Bagunçou a casa
Revirou a cama
Emagreceu quando se viu na balança

Toda mulher já jurou nunca mais
Prometeu a si mesmo
Aos santos e orixás
E acabou voltando atrás

Toda mulher já teve um homem que se foi
E deixou seu coração partido
Sua saudade mordida
Seu mundo sem sentido

Toda mulher de verdade
Já foi embora
Deixou o homem sozinho
Desligou o telefone
E chorou escondida atrás da porta

Toda mulher já pensou que era o fim do mundo
quando perdeu um amor profundo
Até que outro pulou o seu muro
ficou um tempo do lado de dentro
depois foi embora quando já era tempo

Toda mulher já pensou em desistir
mas depois se convenceu de que as coisas são assim
vêm e vão em um eterno pousar sem fim
logo inventam outra vida
e voltam a sonhar por fim




Prefiro ser mulher

Que chora, grita, enlouquece
Prefiro ser mulher
Que pousa dramática, voluntariosa, escandalosa
Prefiro ser mulher
Que irrompe sincera, brava, feito prece
Prefiro ser mulher
Que sonha, forte, suave, misteriosa
Prefiro ser mulher
Que em delicados movimentos canta, escreve, se tece
Prefiro ser mulher
Que belisca a vida rebelde, inteligente, fantasiosa
Porque da mornidão não sai a mulher sem idade
Da forma da intensidade é que sai
A mulher de verdade



Irritada
Profundamente entediada
Angustiada
Indefinidamente ansiosa
Cansada
Insuportavelmente sufocada
Saturada
Amargamente fora de mim
Descontrolada
Levianamente mesquinha
Incerta
Esquecida em uma doce palavra bela
Imóvel
Umedecida e disforme em cores sem pressa
Imortal
Traduzida na eternidade da alma pintada em tela


M.V

Nenhum comentário: