sábado, 11 de abril de 2009

Forma ao disforme

Caro navegante, aí vai uma tentativa de dar forma a meus rabiscos e lágrimas que, na verdade, não têm forma alguma. São todos incongruentes, incoerentes e insatisfeitos em ser o que desejam ou parecem ser, mas não o são de fato. Quem sabe a forma que, aliada ao conteúdo, lança luz sobre o extraordinário, não ilumine também a minha escuridão. Esta na qual já me perco e me desfaço em várias em um devaneio sem fim, em um caos ensurdecedor, em uma fome onde o que busco é saciar a angústia de outrora, somada a esta de agora. Forma seja dada ao disforme que se desenha. Bebo da forma algumas gotas poucas a desaguar neste violento rio que oprime minhas margens e arrasta brutalmente a minha solidão, com a beleza que corresponde e se nutre do caos.

serei amanhã
distante como uma brisa
não me pergunte o porquê

acordarei amanhã
com a coragem pra dizer
o que meu coração insiste em esconder

correrei amanhã
o risco de perder você
na incoerência de quem perde o que não pode ter


Sonhar é breve
dura o espaço do real

Sonhar é eterno
ultrapassa a fronteira do real

Sonhar é paradoxo
vive nas possibilidades do real


Irritam os desejos
se desejados nos desafiam
se realizados nos traem

Irritam as ilusões
se pudesse desejaria nada
se conseguisse não caminharia pelo mar

Se eu escolhesse, jamais

No cruzamento
Ali adiante
Onde não passa ninguém
Escondo um segredo

Ali cruzamento
No adiante
Onde nada é mais distante
Morre meu mistério

Mais triste
Menos sério

Ele me vence
É certo como o incerto
Separa o que penso
Do que já não espero

Ela me entontece
É reta como uma flecha
Dispara no que sinto
Vai e volta pelo mesmo caminho

Lindas, profundas
Vindas, doídas
Choro e arrebento minhas feridas

Olha no meu olho
no olho do teu olhar
Não desvie o olhar
do olho a te olhar
Não faça de teu olho
um mero olho no olhar
Demore-se a olhar
Só assim se alcança
o olho do olhar
no espaço cego
de olhar sem olhar
ver sem reparar

Desce INTENSO
Sobe DENSO

Passa no perigo do caminho
Daqueles que se perdem pelo vento
E tropeçam no tempo

Desce FALANTE
Sobe PENSANTE
Passa no roçar de cílios
Daqueles que esperam pelo destino
Mais cansados do que tristes
Desce
SONHO
Sobe REALIDADE


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