domingo, 29 de março de 2009

A glória de um revolucionário


Acabo de assistir ao filme Che, do diretor Steven Soderbergh com Benicio Del Toro, Catalina Sandino Moreno, Rodrigo Santoro, dentre outros. O filme faz e muito bem o que se propõe a fazer: contar um pouco da história deste argentino que foi, antes de tudo, um revolucionário. A todo o momento, o filme confronta o mito e o homem. Ernesto Guevara é visto como o seu tempo o enxergou, um jovem intrépido, idealista, inteligente, acima da própria pátria que ele tanto defendia. Um revolucionário por excelência.
As questões estéticas também não são deixadas de lado no filme. São belas as imagens, dinâmica a forma de contar a história, intercalando passado, presente e futuro e emocionantes as falas de um Che que parece nunca ter se dado conta da dimensão que ele alcançou. A sensação que se tem ao ver o filme é que somos transportados desta nossa realidade, onde o espírito de revolução e mudança parece carecer de qualquer espécie de sentido, para outro tempo onde a revolução e sua lógica existiam, onde o clamor popular era ouvido, onde o sentido de tantas vidas estava em defender com inteligência uma causa. Além de tudo o filme também não deixa de ser um desafio para vários tabus hollywoodianos já que conta um pouco da história de um líder contrário aos EUA e cerca-se de atores latinos sendo filmado na língua certa, o espanhol, como não poderia deixar de ser.
Um acerto do filme é que ele se concentra na figura de Che, nas suas atitudes tão autênticas e surpreendentes, na sua forma de pensar a vida, nos seus valores, naquilo que pra ele era certo e errado. E por se concentrar na figura de Che, o filme não discute se o certo é o capitalismo ou o socialismo, se a revolução cubana foi legítima e justa ou não, se a luta deve ser armada ou pacífica, enfim, o filme não dá sequer margem para que o espectador pense nisso. O que o filme faz pensar e o que ele nos mostra é que sempre há justiça na busca de um sonho ou ideal, seja ele qual for, há justiça e glória na coerência dos atos, na sinceridade das palavras. Um dos momentos que dizem muito no filme é quando a jornalista que entrevista Che lhe pergunta qual é a principal característica que um revolucionário deve ter. Como quem sabe o que diz e como diz, Che responde, simplesmente, que um verdadeiro revolucionário se faz com amor. A jornalista pergunta novamente, incrédula. Amor? E Che com a mesma firmeza e categoria diz que não imagina um revolucionário que não tenha amor pela justiça, pela verdade, pela causa defendida por ele. É este amor do revolucionário o grande sentido de suas vidas. Sem ele não há porque continuar. E este amor fica mais do que claro no decorrer do filme, transborda em cada um dos guerrilheiros, em cada um dos pensamentos e movimentos, em cada um dos sonhos.
Talvez, essa seja a grande mensagem do filme, mostrar através da história do mito que se fez maior que o homem, a glória e a justiça que existe em lutar por um sonho, seja ele qual for. Aqui existe justiça, nos sonhos não há lugar para o certo ou errado, como nas posições ideológicas e geopolíticas. No caso de Che, ele ainda luta pelo que acredita sem abandonar seus princípios, sua moral, mantendo-se coerente até o final - principalmente quando ele se torna ministro e responsável por defender Cuba na ONU - em oposição não só ao capitalismo, mas a todo o resto de um mundo que não caminhou mais pra frente do que a própria Cuba pós-Revolução Cubana. Se Cuba não se fez o paraíso, o restante do mundo também não está tão longe do inferno assim. Neste sentido em que tanto capitalismo como socialismo têm suas falhas e injustiças, fiquemos com a verdade dos nossos sonhos e inspiremo-nos na força e na incrível irreverência de Che para saber lutar por eles e torná-los realidade.
Este é o mérito do filme, falar de Che mais como homem do que como mito, da glória de uma época, da coerência de um sonho, da verdade de uma revolução para os que de fato acreditaram nela. E mais ainda, este é um daqueles filmes que nos transporta, involuntariamente, para a sua história e que nos muda e perturba já que quando voltamos da viagem, carregamos a nostalgia e a inspiração para lutar por uma sociedade mais justa, ainda que capitalista!

Aviso aos navegantes: “A Guerrilha”, segunda parte de “Che” que trata dos 341 dias passados pelo guerrilheiro na selva boliviana, onde ele é capturado e morto, ainda não tem data fixada para estreia no Brasil. Mas vale a pena esperar!

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