segunda-feira, 23 de março de 2009

Ver sem reparar

Nestes tempos corridos e cansativos tenho feito uma análise digamos mais atenta e minuciosa ao jornal Folha de S. Paulo em decorrência de trabalhos e mais trabalhos acadêmicos. Acabo de fazer a análise de um artigo publicado hoje, 23 de março de 2009, pela presente Folha de que vos falo e corri para cá este meu espaço dividir com os caros navegantes um pouco de minha, eu diria, irritação com um artigo, que na minha modesta opinião - e ela é só minha, enfim, algo que acredito possuir de fato - perdeu todas as chances que tinha de ser um bom artigo, como de fato poderia sê-lo.
O artigo do jornalista José Maria e Silva que pode ser lido aqui toca em um ponto polêmico: a legalização das drogas e a política de redução de danos - que gera discussões das mais variadas e por envolver questões complexas deveria ser analisado com mais cautela - o que, definitivamente, não se faz notar no presente artigo. José Maria defende e sustenta sua opinião com base em seus argumentos, até aí nada de novo em se tratando de um artigo. O problema começa no "como" ele defende e sustenta a sua opinião. José Maria faz uso de comparações absurdas, mistura temas como o "Manifesto Comunista" com a legalização das drogas e a política de redução de danos, comparando-o a uma "Declaração dos Direitos dos Usuários de Drogas", que ele critica de maneira enfática. Fácil ver que uma coisa não tem nada a ver com a outra, não servem para serem usadas a título de comparação. Seguindo a lógica, contrapõe "arauto de ciência de ponta" com "entulhos do Maio de 68".
Em meio a essas comparações vazias de lógica e critério, senti no texto uma falta de humanidade e uma imensidão de preconceitos. Não se trata de defender o usuário de drogas, eles não estão totalmente livres de culpa, mas também não precisam ser atacados de maneira generalizada e um tanto quanto equivocada. Nossos problemas imploram por entendimento e não por atitudes que os reprimam. O autor limita consideravelmente sua capacidade de análise a respeito do tema, pois comete um pecado mortal ao se perder daquela que contempla a quem sabe encontrá-la com mais equilíbrio e perspicácia: a simples capacidade e sensibilidade de perceber que tudo tem um outro lado e antes de tomar partido de um ou de outro, em uma situação específica, é preciso analisar muito bem todas as variáveis que compõem esta dada situação. Variáveis tão multiplas e tão inexatas.
Termino citando meu querido Saramago - "Se podes olhar, vê, se podes ver, repara”. Minha impressão é de que José Maria viu, mas não reparou e assim ficou apenas no dito pelo não dito.

2 comentários:

Ricardo disse...

Eu desconheço tal "Declaração dos Direitos dos Usuários de Drogas". Mas, se existir realmente, é um absurdo completo que merece o repúdio de qualquer pessoa razoavelmente inteligente. Afinal de contas quais são estas "drogas" e o que caracteriza alguém como "usuário"? O viciado deve ser tratado, claro. Mas e o consumidor ocasional, que não é dependente? Porque razão ele deveria ter algum direito especial por conta de um hábito nocivo do qual ele está totalmente consciente?
Tenha santa paciência!

Maura Voltarelli disse...

Obrigada pelo comentário Ricardo. Eu também confesso que desconheço essa tal "Declaração dos Direitos dos Usuários de Drogas", vi o nome pela primeira vez nesse artigo que comentei aqui no blog! Mas, como você disse muito bem, tenha santa paciência!