segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma ilha de lucidez em um oceano de descrença

A Aula Magna da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - que abre oficialmente as atividades do ano letivo de 2009 - contou com a presença do senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos poucos que defendem a já tão desvalorizada e esquecida bandeira da ética no senado federal em Brasília. O senador - que se formou em Direito pela PUC-RS, foi professor na Universidade Caxias do Sul e especializou-se em Economia Política e Direito Penal na Universidade de Paris, Sorbonne, além de ter feito estudos sobre Direito na Faculdade de Direito em Roma, Itália – mostrou, ao longo de toda sua fala, um tom de preocupação e seriedade em relação ao presente e ao futuro, tom este que tanto faz falta a grande parte de nossos representantes políticos.
Ao longo da sua exposição na Aula Magna, Pedro Simon falou sobre muita coisa, deu lições, emocionou, fez-se merecedor das palmas da plateia em vários momentos; e mostrou toda sua lucidez e discernimento ético em relação ao que deve e pode ser feito. Cito aqui alguns pontos de sua fala - de muita valia a todos aqueles que ainda acreditam no Brasil - não só para que conheçam um pouco do que disse o senador, mas também e, principalmente, para que não se sintam tão enganados, desmotivados, anestesiados e descrentes com o festival de horrores a que somos apresentados todos os dias. Ainda resta alguma lucidez em toda essa falta de coerência!

Pedro Simon
Família

"A família de ontem não é mais a mesma de hoje, as coisas, as relações, mudaram muito. A forma como encaramos a vida atualmente também mudou. Hoje ela é um tanto desorientada e excessivamente televisiva. E há qualquer coisa de doloroso nisso quando vemos que a família já não é mais aquela família e a escola já não é mais aquela escola."

Escola

“Na escola atual instruir já é difícil, educar então...”

“A formação básica tem uma grande importância diante da ideia de que o cérebro se forma até os cinco anos, portanto, é nessa fase que as coisas que acontecem ou não, realmente importam no que diz respeito às consequências que virão mais a frente.”

Televisão

“Um mundo onde se janta assistindo TV ou Jornal Nacional, não sei o que é pior. O papel da televisão atualmente é o de entrar na formação da sociedade, e como tudo que é ruim se espalha, estamos diante do fenômeno da exportação de novelas brasileiras para o mundo todo. Diante disso, faço uma pergunta: qual é a formação da sociedade brasileira atualmente?”

“Eu tive uma séria discussão com o Lula em relação à criação da TV Brasil por decreto. Além do autoritarismo, não houve nenhum preparo ou planejamento. O resultado está aí na audiência da TV Brasil: zero. É o Brasil das inconsequências.”

Impunidade

“O grande problema do Brasil é a impunidade. Mas o Brasil é diferente dos outros lugares porque aqui ninguém é preso, a não ser pobre e ladrão de galinha, que não sabe nem nunca ouviu falar na justiça, só conhece a polícia. O Congresso reclama, faz um alvoroço quando a prisão de um rico - de pijama na porta de sua casa - aparece na TV, mas isso acontece todo dia com o pobre, é o que acontece todo dia.”

“Precisa-se acabar com a impunidade, vamos nos respeitar.”

“Certa vez, ocorria uma discussão no senado envolvendo um senador que, entre outras falcatruas, também estava envolvido em um roubo de galinhas, algo assim. Tive que ir à tribuna dizer que, neste caso, ele realmente precisava tomar cuidado porque roubo de galinha no Brasil é perigoso.”


“Para acabar com a impunidade é preciso, em primeiro lugar, acabar com o foro privilegiado, afinal, quantos foram condenados no Supremo? Nenhum. Depois é preciso tomar providências como diminuir o número de partidos. O Brasil não pode ter 20 partidos, isso é uma distorção. A fidelidade partidária também deve ser cobrada e não adianta dizer que vai sair do partido porque nele existe um bando de vigarista, é preciso seriedade para cobrar. A saída é marchar para um sistema democrático onde haja obrigatoriedade no que se tem que fazer. Imagine se o que aconteceu nos EUA com os assessores de Obama - que simplesmente foram destituídos dos cargos diante de acusações de sonegação fiscal – aconteceria no Brasil. Aqui isso soa como piada.”

“Eu estou apresentando um projeto de lei ao senado federal segundo o qual ficha-suja não pode ser candidato, e que aquele que tiver um processo deve ter esse processo julgado em primeiro lugar, senão antes das eleições até no máximo antes da posse. Enquanto não houver julgamento em caráter definitivo continua-se atuando na vida pública e recorre-se aqui, ali, às milhares de instâncias que fabricam a impunidade.”

Mais do mesmo

“No Brasil não conseguimos sair dos ciclos – dos usineiros, cafeicultores - os ciclos daqueles que mandam e fazem tudo por conta própria, sem que ninguém mais fale, participe ou manifeste a sua opinião. E nós continuamos assim, políticos cada vez mais isolados do restante da sociedade.”

Lula e o PT

“Com a primeira vitória do Lula quem ganhou foi o Duda Mendonça com a sua fabricação do Lulinha paz e amor e isso não pode, não se vende um candidato como se vende uma máquina, uma pasta de dente.”

“O PT era uma ótima oposição, ele foi ensinado muito bem no que diz respeito a ser oposição, mas também devia ter sido ensinado a estar no poder, do outro lado. Pegar a caneta é muito difícil.”

“Nada mais igual que o PSDB de FHC do que o PT de Lula.”

“O PT foi incoerente com a sua própria história.”

UNE

“A UNE está fazendo o quê? No máximo a meia-entrada e o movimento pela liberdade sexual. Ela caiu na mesmice, assim como muitas outras organizações. Precisa mudar, não só ocupar uma linda sede.”

PMDB

“O PMDB quer ser a noiva: dá pra quem paga mais, ou dá pros dois.”

A Mocidade

“Quando o Brasil achava que a ditadura não iria acabar, a mocidade saiu às ruas e protestou. A emenda Dante de Oliveira não foi aprovada na época, mas depois a ditadura foi acabando. Quando o Collor pediu que a juventude saísse às ruas de verde e amarelo em seu favor, ela saiu de preto e ele foi cassado dias depois. Olhem o poder da mocidade.”

“As CPIs são uma ótima saída, pena que elas não adiantem mais. Elas aparecem como um movimento incrível, importante, que mandava prender, cassava mandatos, mas isso quando o senado ainda tinha capacidade de se indignar, como fez em vários momentos. Hoje, ele perdeu essa capacidade, basta ser partidário. Por isso a saída é a mocidade.”

Realidades e possibilidades

“Estamos acostumados à vulgaridade, à rotina do escândalo, nada nos choca mais. As revistas divulgam um fato atrás do outro, mas só ficam nisso, depois de um tempo de tudo se esquece, não há continuidade.”

“Eu acredito na movimentação, conscientização, cobrança, divulgação do fato, no povo brasileiro ocupando o seu espaço. Isso pode e deve ser feito.”

“Levantar, debater, discutir, cobrar, isso é importante. Trazer a oposição - o outro lado - o que é um grande trabalho. São vocês que podem mudar, eles morrem de medo de vocês. Parlamentar morre de medo de opinião pública classificada.”

Um comentário:

Rogerio Stopa disse...

É, precisamos dar valor para o nosso Brasil sim e muito valor, pois em cidade que foi eleita a melhor do mundo para se morar também tem seus problemas e que podem ser comparados com os daqui facilmente. Lá se vê seringas nas ruas, pessoas se suicidando, mulheres sendo estupradas, pessoas quebrando tudo em show que deu algo de errado, mendigos que falam mais de uma língua e olhe que tinha um que falava português,...etc. Fora esses problemas, lá se tem saúde pra todos, caso perca-se o emprego o governo continua com o custeio pagando um salário com a condição de que se prove que está procurando emprego, se acontece algum roubo onde esse roubo seja praticado por um menor eles pensam em levá-lo para uma assistência social e não incriminá-lo e simplesmente chamar a polícia, para as Olimpiadas de Inverno em 2010 população saiu à rua para protestar pedindo que investisse não somente nos jogos, mas que fosse investido em melhorias ou aperfeiçoamentos nas áreas de saúde, educação, etc. Agora, se o governo daqui olhasse mais por nós e a população se mexesse mais, garanto que não deixaria nada a dever para essa cidade. Cidade que eu falei é Vancouver - Canadá.
O nome desse Senador será lembrado.

Uma ótima semana Maura.