terça-feira, 3 de março de 2009

Inspirações e divagações

Nesta postagem mostro mais algumas poesias, letras sentidas, formas pensadas, mas juntamente com elas, coloco algumas obras do pintor impressionista francês Claude Monet. As paisagens de Monet sempre me agradaram, seja por seus traços suaves, como pela sua técnica impressionista em que a imagem pintada aparenta ser, olhando de perto, apenas alguns borrões, mas ao distanciar a visão, ela e o quadro, como um todo, se formam nitidamente. A essência do movimento impressionista - que teve seu nome inspirado justamente em um quadro de Monet “Impressão, nascer do sol” (1872) – consistia em não mais se preocupar com o retrato fiel da realidade, mas com a busca dos elementos fundamentais de cada arte (para título de curiosidade daí também veio a inspiração para o nome deste blog que não pretende se limitar ao retrato exato da realidade, haja vista a minha opinião de que não há inteiros e exatos). Neste sentido, a luz e o movimento aliados às pinceladas soltas passaram a ser as marcas deste estilo artístico.
O fato é que Monet - que nos leva àquela postura contemplativa da arte, ao contrário de outros como Duchamp que nos leva a decifrá-la - faz com que na calma de uma paisagem, na sutileza da mistura de cores, na transparência do jogo de luz, apareça em nós as mais inusitadas lembranças, a mais voluntária inspiração e os mais inocentes sentimentos (o leitor que sempre está por aqui já deve ter notado minhas constantes comparações com Duchamp, desculpe a insistência mas é que ele me agrada deveras, não resisto à tentação de lembrá-lo). Decidi unir portanto, uma de minhas inspirações ao produto de minhas divagações. Prefiro produto de minhas divagações pois não digo que o que faço é arte - já que minha poesia é muito mais emoção e liberação de sentimentos do que arte enquanto técnica e intuição. O fato é que tanta inspiração e divagação, com todos estes “aõ”, ainda vão me revirar do avesso. O que me consola é que, apesar de tudo, elas não se esquecem de me trazer de volta – ou melhor, quase nunca se esquecem.


The Artist's Garden at Giverny , Claude Monet

Onde encontrei tanta
tamanha solidão?
Por que meu peito é pouco
pequeno?
Qual a origem da perplexidade
dos fantasmas?
Por que esse medo
essas perguntas?
Qual é a nascente de meus olhos molhados?
O amor?
A morte?
E esse canto doce
E essa voz alucinante
Inebria-me esse cheiro constante
Tenho vontade do tudo
e do nada
Entre sofreguidões, ensaios, recortes
Vontade de um norte distante
como você
Você que eu não posso ter
a não ser em sonho
Por um instante
Amante, cortante...
Não sei se o sonho ou o instante

M.V

Nenúfares, Claude Monet


Assumir meu caminho?
Seria de todo prosaico demais
Se tiver que assumir algo
Será o meu próprio destino

M.V

Antiquado, sensual, banal
Brota de teus olhos
O sal


M.V


Water Lily Pound, Claude Monet

Pensa que eu não via os olhares
Logo e prontamente desviados
E que prazer em desencontrar olhares
Os teus em direção aos meus
Correndo a encontrar os teus
Mas chegando sempre atrasados
Não me importa que fiquem
somente os olhares
Ocasionais e gratuitos
Não é polido esperar nada deste
Que se não for inebriante
E efêmero
Não pode ser um flerte


M.V

4 comentários:

Rogerio Stopa disse...

"Qual é a nascente de meus olhos molhados
O amor?
A morte?"
Gostei.Impressionou.

Maura Voltarelli disse...

Fiz algumas alterações na primeira poesia desta postagem apenas por questõa de forma. É,não me agrada muito a forma, mas temos que aderir a ela em algumas circunstâncias.
Aproveito para agradeçer ao Rogério pelo comentário. Obrigada!

Daniel Serrano disse...

pô, forma, em poesia, é o que há.

Maura Voltarelli disse...

Daniel é verdade viu, forma em poesia é importante, por isso fiz as alterações de que falei em algumas maiúsculas e minúsculas...Obrigada pela lembrança!